Numa tentativa de explicar
sua forma de entender o relacionamento com Deus para uma amiga, a melhor
comparação que minha esposa encontrou foi com o relacionamento de um casal. É
lógico que sua definição tem como base um casal com um relacionamento saudável.
A explicação dela me fez pensar em desenvolver a ideia e escrever este texto.
Deus é um Deus de
relacionamentos. Ele ama relacionar-se com sua criação. O texto sagrado da
criação diz que “ouvindo a voz do Senhor
Deus, que passeava no jardim à tardinha, esconderam-se o homem e sua mulher da
presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim” (Gn 3:8). Deus, ao
cair da tarde, vinha passear no jardim que acabara de criar. Imagino que vinha
para olhar cada árvore, cada flor, cada animal, sentir os cheiros, ouvir os
barulhos, ouvir o cantar dos pássaros, ter contato com toda aquela maravilha
que acabara de criar.
Vinha em busca de relacionamento
com sua criatura. Queria conversar com Adão e Eva. Saber das suas descobertas
naquele belo jardim. Quais suas preocupações para aquele dia. Quais suas
sensações diante de tudo aquilo que ele havia criado para eles. Olhar para
eles. Ver seus olhos brilhando pelas descobertas, não só da natureza e de tudo
que ela poderia lhes oferecer, mas também pela descoberta um do outro. Pelas
sensações que sentiam ao tocarem-se. Tenho certeza que Deus se deliciava a
observá-los como duas crianças soltas num belo parque de diversão.
Aquela intimidade era um
momento mágico tanto para Deus quanto para o ser humano. Pena que logo depois
tudo isso mudou. A opção pela desobediência a Deus criou uma barreira, afastou
o homem de Deus e toda aquela intimidade deixou de existir. Mas Deus proveu um
meio para que isso fosse possível novamente. E através de Jesus, o homem volta
a ter contato com seu Criador, face a face. O homem pode buscar por Deus sempre
que quiser. É ai que entra a comparação do relacionamento entre o esposo e a
esposa, e entre o homem e Deus.
O dia a dia da família não
permite que o relacionamento entre o casal seja sempre igual. Toda a
preocupação com os filhos, o trabalho, as atividades na igreja ou em outro
lugar, acaba fazendo que o relacionamento tenha momentos de maior ou menor
intensidade.
Os filhos tomam muito a
atenção da mãe, principalmente quando são pequenos, e nesses momentos o máximo
que se pode ter é um olhar, uma troca de rápidas palavras, uma esbarradinha
mais provocadora, um beijo rápido. O trabalho tira um do outro por pelo menos
metade de um dia. Às vezes nem dá para uma troca de palavras. E, à noite, o
cansaço do dia faz com que a cama seja muito mais um lugar de descanso do que
de intimidade, e então, um breve “amasso” e nada de intimidade profunda.
Aaahhh, mais existem
momentos em que a porta do quarto é trancada, e então, palavras, cheiros,
carinhos e carícias, beijos e abraços e a intimidade se aprofunda e não são
mais dois, mas um. A vida lá fora é completamente esquecida, os problemas já
não existem mais, só o prazer de ficarem juntos e misturados, entrelaçados numa
intimidade estonteante, respiração acelerada, até que tudo de repente explode
numa sensação incomparável de prazer, felicidade, leveza e relaxamento, frutos
da intimidade linda e deliciosa que Deus preparou para o casal.
Assim é com Deus. O dia a
dia nos faz quase que esquecer que ele existe. Por vezes, o que nos resta são
momentos em que olhamos para o céu e falamos uma ou duas palavras de
agradecimento para ele. Outras vezes temos um pouco mais de tempo com ele, seja
nos momentos de culto na igreja ou numa rápida devocional na sua hora
escolhida.
Mas existem momentos que
precisamos obedecer ao que Cristo nos ensinou quando disse: “Mas tu, quando orares, entra no teu quarto
e, fechando a porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em
secreto, te recompensará” (Mt 6:6). Ai sim, este é, segundo minha esposa, o
momento de “fazer sexo com Deus” (eu
pensava que só eu não tinha muito juízo). Pode parecer desrespeitoso para você,
mas não vejo assim. Creio que depende da forma como vemos o sexo. Se o sexo foi
uma criação de Deus para o homem e a mulher se satisfazerem e tornarem-se um,
creio que a palavra pode ser usada sem nenhuma dificuldade para este momento de
profunda intimidade com Deus.
Este é aquele momento em
que você entra no seu quarto, e tudo mais deixa de ser problema. A vida lá fora
parece não existir. Você começa um processo de adoração a Deus numa busca de
intimidade, de profundidade, e aos poucos vai sendo tomado pela presença
fortíssima do poder do Espírito Santo que te inunda de uma forma maravilhosa, e
parece que você está em um lugar qualquer menos neste mundo tão conturbado.
Talvez no céu, quem sabe?
A delícia de um momento assim com Deus é algo
que você não consegue explicar. Por isso gostei da comparação da Ana, pois me
pareceu mais real. Suas forças são renovadas, sua alegria é potencializada, seu
amor pelo próximo tem um alcance e uma compreensão muito maior. Sua imagem e
semelhança com Deus é aumentada gradativamente.
Quando você sai do seu
quarto (não dá vontade de sair), há uma leveza no ar, há uma paz que reina em seu
coração, há uma alegria contagiante em você, há brilho nos seus olhos, há
sonhos, desejos, vontade de sair e esparramar o que você está sentido com
todos. E isso não precisa nem de muito esforço, pois todos ao seu redor vão
perceber e usufruir. Vai ser uma alegria estar perto de você. Você será
contagiante no seu amor pelo Pai. Vai ser justo no seu proceder. Vai ser
vigoroso no seu testemunhar do que Cristo tem feito em sua vida.
Não se escandalize, mas eu
creio que o que mais precisamos em nossa vida é de mais desses momentos de
“sexo com Deus”.