Não sei você, mas eu tenho
muita dificuldade de jogar qualquer coisa na rua. Mesmo um pequeno pedaço de
papel. Fico irritado quando vejo pessoas jogando coisas na rua. Uns porquinhos
que jogam lata, papel ou outra coisa qualquer. Depois, quando chove e as ruas
ficam alagadas por causa dos ralos entupidos, esses “lindinhos” ficam culpando
o prefeito.
Creio que muito mais que uma
falta de respeito ecológico, falta de educação ou desrespeito aos outros, é uma
questão de mordomia. Quando Cristo disse que “quem é fiel nas coisas pequenas, também será nas grandes; e quem é desonesto
nas coisas pequenas também será nas grandes” (Lc16:10), poderia muito bem
estar se referindo a estes pequenos gestos do nosso dia a dia também. Por que o
texto fala de coisas como azeite e trigo, que são bens materiais, fechamos a
caixinha da interpretação apenas para a questão do ofertar, mas não vejo
nenhuma deturpação do texto em refletir sobre situações cotidianas, que fazem
parte da mordomia cristã.
Paulo nos mostra como a
prática da mordomia não é apenas uma questão financeira, é bem mais abrangente
e muito séria quando diz:“Pois, se
anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, porque me é imposta essa
obrigação; e ai de mim, se não anunciar o evangelho! Se, pois, o faço de
vontade própria, tenho recompensa; mas, se não é de vontade própria, estou
apenas incumbido de uma mordomia” (ICo 9:16,17). Para ele a prática da
evangelização era uma atividade de sua mordomia para com Deus. Ele fora colocado
como um mordomo para servir ao Senhor, enquanto servia ao outros. Fazer por
prazer ou para cumprir uma obrigação, mas fazer.
Todos nós, cristãos, recebemos a
incumbência da evangelização, portanto todos nós somos mordomos de Deus. Como
ser um bom mordomo quando falhamos em coisas que podem ser significativas para
o crescimento do reino? Ficamos preocupados em fazer grandes ações, que chamem
a atenção, que tragam os olhares sobre nós e nos esquecemos de que pequenos
gestos podem fazer uma grande diferença.
Um “bom dia” ao seu
porteiro, ao faxineiro do seu prédio, ao gari, ao caixa do mercado ou do banco,
mesmo depois de enfrentar uma longa fila. Permitir que sua empregada coma a
mesma comida que você, mesmo que ela tenha acabado de botar fogo no lado do seu
fogão (aconteceu aqui em casa). Um “muito obrigado” para o motorista ao entrar no
ônibus, ainda que ele tenha parado fora do ponto e você tenha precisado dar uma
corridinha debaixo do sol quente. Um sorriso para aquele seu vizinho que lhe
parece mal-humorado, mesmo que ele não lhe retribua. Dar um sorriso e agradecer
ao segurança do banco quando ele libera a porta para você entrar, mesmo depois
de quase ter que ficar nú para provar para ele que você não estava armado. Uma
palavra agradável para o rapaz do posto de combustível, afinal, ele não é
apenas o “boneco do posto”.
Li, na internet, que
descobriram que mulheres grávidas e pessoas idosas são um excelente remédio
para falta de sono, pois quando entram no ônibus, todos que estão sentados
começam a dormir. Espero que você não sofra desse problema, pois faz parte da
mordomia ceder seu lugar.
São coisas de menor
aparência, de menor peso, que não chamam tanta atenção, que não fazem de você
um grande candidato ao prêmio cidadão exemplar do ano em sua cidade, mas que
podem ser de grande valor para aquela pessoa para quem você fez, ou para alguém
que viu o que você fez, por ver que o mundo não está tão perdido assim. A
mordomia cristã passa por isso, mostrar ao mundo que nem tudo está perdido, que
ainda há solução, e que você sabe o caminho. E, com certeza, suas palavras
surtirão menos efeito do que suas atitudes.
Na sequencia do texto de
acima, depois de falar sobre várias atitudes tomadas, Paulo afirma: “Faço tudo isso por causa do evangelho”
(ICo 9:23). Não era por ele mesmo, e sabemos que por nós mesmos não faríamos
nada do que fazemos, mas deve ser feito por causa do nosso comprometimento com
o evangelho. Não era por ele, mas ele fazia.
E numa tentativa de
mostrar que nossa prática precisa ser compatível com nossa fala, o apóstolo
diz: “Mas esmurro o meu corpo e faço dele
o meu escravo, para que, depois de ter pregado aos outros, eu mesmo não venha a
ser reprovado” (ICo 9:27).
Pequenos gestos, grandes atitudes. “São as atitudes e não
as circunstâncias que determinam o valor de cada um. O que você diz, com todo
respeito, é apenas o que você diz” disse Bob Marley.
Que não sejamos apenas
faladores. Que não sejamos como mordomos infiéis.
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