Há tempos entrei num banco próximo a minha casa e deparei-me com
uma imagem que me fez sorrir. Havia um belo crucifixo pendurado numa das
paredes e logo abaixo dele uma plaqueta que dizia: Retire aqui sua senha. Ao
lado um aparelho emissor de senhas. Era para a fila de idosos.
Meu primeiro pensamento foi: será que é senha para ir para o céu?
Se for prefiro esperar e pegar a ultima. Não tenho muita pressa. Mas isso é
coisa da minha cabeça. Sou meio esquisito. Tenho esses pensamentos, mas me
divirto com eles.
Para completar, esta semana vejo uma placa que me retorna o
pensamento a situação no banco. A placa dizia com letras destacadas: “Porta do
Céu”. Logo abaixo em letras menores a inscrição: “Veja os preços abaixo”. É claro
que mais uma vez tive que sorrir.
Vou explicar.
No Rio de Janeiro há uma comunidade que se chama Cidade de Deus.
As ruas desta comunidade são conhecidas por nomes bíblicos. A “porta do céu”
seria uma das entradas e lá tem um serviço de motoboys que transportam as
pessoas para dentro da comunidade, e cada localidade tem um valor diferente.
Infelizmente existem pessoas que realmente procuram comprar uma
entrada para o céu. Existem igrejas que, direta ou indiretamente, têm
estipulado preço para alcançar o céu. As bênçãos divinas viraram um comercio
desenfreado em nossos arraiais. Benção maior, preço maior.
Não vejo nenhum testemunho de pessoas que mesmo dando grandes
ofertas, sofrem algum tipo de dificuldade, mas continua fiel. Sempre o esquema
é o mesmo: conheci a igreja tal, do pastor ou apostolo tal, passei a ofertar
regularmente e hoje sou milionário. Fico pensando nas pessoas que frequentam igrejas há muitos anos, são fieis dizimistas, vivem uma vida correta diante de
Deus, mas não ficam ricas, sofrem alguma enfermidade, tem problemas familiares
ou coisas parecidas.
Comprar bênçãos não é nenhuma novidade. Geoffrey Blainey,
em seu livro "Uma Breve História do Cristianismo" (Ed. Fundamento)
conta que "O tratamento dispensado pela igreja aos pecadores seguia uma
fórmula: o pecador em busca do perdão confessava o pecado a um padre, que
prometia absolvição, desde que cumprida a pena apropriada. Talvez o padre
recomendasse orações, a pratica de uma boa ação ou o pagamento em
dinheiro", e mais a frente ele diz que "O papa Leão X criou uma venda
ainda mais ousada. Em 1515, a bula papal oferecia indulgências para financiar a
construção da nova igreja de São Pedro, em Roma. O príncipe Alberto, também arcebispo
da cidade de Mainz, indicou agentes para conceder essas indulgências,
geralmente em troca de uma quantia de dinheiro. (...) a quantia era estipulada
de acordo com os ganhos dos pagantes. (...) Na verdade, parte do dinheiro
arrecadado ia para banqueiros alemães, a família Fugger, como pagamento de um
empréstimo."
O autor do livro bíblico II Reis, conta a história de Naamã. O
capitulo 5 começa informando que ele era comandante do exercito sírio e que era
respeitado e honrado pelo rei, pois era um vitorioso. Porém, traz uma
informação bem ruim ao final do versículo 1: “Mas esse grande guerreiro era
leproso”.
A história continua e diz que ele vai procurar um servo de Deus,
indicado por uma menina que servia sua esposa. Este servo de Deus era Eliseu.
Ao chegar oferece "trezentos e cinquenta quilos de prata, setenta e dois
quilos de ouro e dez mudas de roupas finas" (II Rs 5:5). O texto sagrado
revela a atitude de Eliseu diante da oferta que certamente encantaria a muitos
ditos servos de Deus hoje: "Juro pelo nome do Senhor, a quem sirvo, que nada
aceitarei" (II Rs 5:16).
Mas apesar de tudo, chegar ao céu realmente tem um preço. Nas
palavras de Dietrich Bonhoeffer "A graça não é barata, custou o sangue de
Cristo". Pedro nos fornece o aval para esta frase: "Pois vocês sabem
que não foi por meio de coisas perecíveis como prata ou ouro que vocês foram
redimidos da sua maneira vazia de viver, transmitida por seus antepassados, mas
pelo precioso sangue de Cristo" (I Pé 1:18,19).
Então, o preço já foi pago. Não há necessidade de pagarmos mais
nada, nem fazermos sacrifício algum. Não há nada que façamos que nos sirva como
pagamento para irmos para céu, sermos salvos. O que teria que ser feito, já foi
feito. Cristo já pagou por nós.
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