A
língua portuguesa é muito bonita, mas muito complexa. Pelo menos para mim. Nos
meus tempos de ginásio (sim, é verdade, sou desse tempo) sofria muito com a
língua portuguesa. Gostava muito de interpretação de texto e redação que, nas
provas de português, eram minha salvação, pois quando juntavam suas notas com a
de gramática as duas primeiras faziam meu conceito final ficar bem acima da
média. Ainda assim consegui ficar reprovado e tive que fazer aulas de
recuperação uma vez. Não me lembro o motivo, pois já se passaram alguns anos.
Afinal, como disse antes, sou do tempo do ginásio.
Não
entendia porque tinha que estudar fonologia, morfologia e sintaxe, pois na hora
de escrever nunca iria ficar analisando o porquê de escrever esta ou aquela
palavra. Apenas escreveria a palavra que mais se enquadrasse com meus
pensamentos sem me preocupar qual a função dela no texto. Como gostava muito de
ler achava que isso me bastaria para me ajudar a escrever bem. Sei que não sou
um craque em português, mas sei também que escrevo de maneira bem correta.
Ainda sou novo, ainda posso aprender.
Uma
das coisas que tive que estudar foi sobre conjunções. Lembra-se delas? Conjunções
coordenativas e conjunções subordinativas. Elas me causaram alguns problemas
naquela época, mas hoje me ajudam a esclarecer algumas coisas.
Por
exemplo: hoje já posso entender que Isaias era um produto do meio por causa de
uma conjunção coordenativa aditiva: “e”. Esta conjunção liga orações ou
palavras, expressando ideia de acrescentamento ou adição. Isaias
revela em seu livro: “Ai de mim! Estou pedido; porque sou homem de lábios
impuros e habito no meio de um povo de lábios impuros” (Is 6:5). Com
esse simples “e” ele se inclui no meio de uma massa de infratores das leis
divinas, e agora diante da santíssima presença de Deus se reconhece um
Maria-vai-com-as-outras.
Ao
reconhecer sua situação desesperadora, e arrepender-se dela, vê um anjo do
Senhor tocar seus lábios com uma brasa e anunciar: “Agora que esta brasa
tocou os seus lábios, as suas culpas estão tiradas, e os seus pecados estão
perdoados” (Is 6:7). Aqui entra uma conjunção temporal: “agora que”. Isto nos
leva a entender que Isaias já não era mais o mesmo. Seus lábios tinham sido
purificados. Seus pecados estavam perdoados. Porém, como toda bênção de Deus
vem com uma responsabilidade, Isaias ouve: “A quem enviarei? Quem irá por nós?”
(Is 6:8). Entendendo que Deus o convocava ele responde: “Aqui estou eu,
envia-me” (Is 6:8).
Os
lábios, agora purificados, são enviados para levar a mensagem ao povo. Lábios
impuros não poderiam fazer isto. Iriam prejudicar ainda mais a situação daquele
povo.
Mas
também o aprendizado das conjunções me ensina que é possível viver no meio de
um povo de lábios impuros e corações que desagradam a Deus, mas não
contaminar-se. Noé viveu em um mundo depravado, mas continuou puro. A
imoralidade era tão grande que faz Deus arrepender-se da criação: “Então o
Senhor arrependeu-se de haver feito o homem na terra e isto lhe pesou no coração”
(Gn 6:6).
Noé
não foi produto do meio. O texto bíblico nos diz que ”Noé, porém, encontrou
graça aos olhos do Senhor” (Gn 6:8). Aqui encontramos uma conjunção
coordenativa adversativa expressando ideia de contraste: “Porém”. Entre toda aquela
gente apenas Noé não fazia parte da massa. Ele se excluía daquela baderna
generalizada que era o dia a dia do ser humano. Ele contrastava com tudo aquilo
que havia ali. Noé era um estranho no ninho.
O texto sagrado nos
mostra porque Noé achou graça aos olhos de Deus: “Ele era homem justo e íntegro
em sua geração” (Gn 6:9). Como esse cara conseguia isso? Como ser justo e
integro no meio de tanta bandalheira? Qual o parâmetro de justiça e integridade
que ele tinha se não existia isso ao seu redor? A continuação do texto nos
mostra qual o segredo de Noé: “e andava com Deus” (Gn 6:9). Noé tem outra
conjunção em sua vida. É a conjunção que acrescenta mais alguma coisa a vida
desse homem, adiciona mais um item importantíssimo no seu dia a dia, e nos faz
entender o porquê da disparidade entre o seu comportamento e dos seus contemporâneos:
Noé andava com Deus.
Noé não visitava Deus
aos domingos ou quartas na igreja. Noé não dava um alô para Deus alguns minutos
por dia, ou uma vez por semana. Noé andava com Deus. Deus era parte da sua
vida. Deus era a sua própria vida. Não havia nada que o fizesse mudar. Ele
decidiu não se contaminar, assim como fez Daniel no cativeiro (Dn 1:8). Ele não
aceitou ser produto do meio. Por isso Deus o honrou livrando-o, junto com sua
família, da destruição de toda a humanidade.
A narrativa de Gênesis
nos informa que “a terra, porém, estava corrompida diante de Deus e cheia de
violência” (Gn 6:11). Hoje não vivemos situação muito diferente. Somos cercados
por todos os lados de situações que refletem claramente a igualdade desses
tempos. A violência cresce assustadoramente; a imoralidade cria novas situações
a cada instante; a corrupção cresce surrupiando os meios que poderiam dar uma
vida melhor às pessoas; a falta de caráter é preocupante; enfim, temos tudo que
nos faz imaginar que Deus deve estar muito aborrecido pelo que fazemos.
Mas agora você não tem
mais desculpas. Você já sabe tudo sobre conjunções, e aprendeu que elas podem
ser boas ou não para você. Você já sabe que, se por acaso virou produto meio
que desagrada a Deus, ainda há oportunidade de mudar. Assim como Isaias, Deus
pode fazer em você uma transformação total. Ele não precisa mais de brasas
porque o “sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o
pecado” (1 Jo 1:7). Você sabe também que não há desculpas para dizer que se
tornou um produto do meio, e já que todo mundo faz você também pode fazer. Com
Noé você aprendeu que pode viver em meio a baderna sem se contaminar.
Agora,
a decisão é sua. Meu texto pode ter erros de gramática. O que eu falei sobre conjunções pode ter
alguma falha. Você pode encontrar falhas na minha pontuação e na concordância
verbal. Eu sei que pode. Já disse que não sou excelente em português, e meu
objetivo aqui não era uma aula de morfologia. Mas, uma coisa posso garantir, os
princípios bíblicos aqui inseridos são dignos de apreciação.
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