Se há uma coisa que fazemos muito bem é complicar a
vida. Principalmente nós, os marmanjos, fazemos isso com enorme maestria. Às
vezes tornamos as coisas tão complicadas que nós mesmos sofremos com o que fazemos.
A vida era para ser simples. Ser simples e bela.
O conto infantil “O rei Bigodeira e sua Banheira”, de
Audrey Wood e Don Wood (Editora Ática), reflete bem isso. O rei Bigodeira um dia
entrou em sua banheira e não queria mais sair de lá. Seu jovem pajem correu
tentando encontrar alguém que tirasse o rei do banho. O cavaleiro, a rainha, o
duque e os membros da Corte tentam vários argumentos, mas nada convence o rei a
sair da banheira. O pajem finalmente tem uma ideia brilhante: tira o tampão da
banheira e a água escorre até não ficar nem uma gota, e o rei finalmente sai do
banho. Simples assim.
O profeta Miquéias narra uma situação onde percebemos
que a vontade de complicar do povo de Deus não é uma invenção moderna. Irritado
com o povo de Israel que esquecera todas as bênçãos recebidas, Deus chama o
povo para se explicar por causa das suas maldades, e convoca a natureza para
testemunhar: “Escutem a acusação que o Senhor Deus vai fazer contra o seu povo!
Levanta-te, ó Deus, e faze a tua acusação; e que as montanhas e os montes ouçam
o que dizes. Ó montanhas, ó alicerces firmes da terra, escutem a acusação que o
Senhor faz contra Israel. Pois ele tem uma questão para resolver com o seu
povo; ele vai acusar o povo de Israel. O
Senhor diz: ‘Meu povo, o que foi que eu fiz de errado? Será que exigi demais de
vocês? Respondam!” (Mq 6:1 a 3).
Toda a criação era testemunha contra a idolatria
praticada pelo povo de Israel que já esgotara a paciência de Deus. E Deus quer
saber quais são os argumentos do povo para fazer tudo errado; por complicar a
vida daquele jeito. Em momento algum Deus pede algo que não seja possível de se
fazer. Sempre são coisas tão simples. Nada complicado.
Depois de lembrar ao povo o que Deus já havia feito por
eles o profeta começa então a questionar o que poderia ser feito para agradar a
Deus: “O que é que eu levarei quando for adorar ao Senhor? O que oferecerei ao
Deus altíssimo? Será que deverei apresentar a Deus bezerros de um ano para
serem completamente queimados? Será que o Senhor ficará contente se eu oferecer
milhares de carneiros ou milhares e milhares de rios de azeite? Será que
deverei oferecer o meu filho mais velho como sacrifício para pagar os meus
pecados e as minhas maldades?” (Mq 6:6,7). Bastariam os sacrifícios? Era só
isso suficiente para agradar a Deus? Sacrifícios e mais sacrifícios?
Hoje ainda vemos que alguns cristãos vivem nesta luta
incansável para agradar ao Senhor. Sacrifícios e mais sacrifícios. Não de
animais, como no Velho Testamento, mas de si próprio. Não entenderam bem o que
Paulo falou sobre apresentar o próprio corpo para o sacrifício. Creem que é
literalmente. Eles se matam para cumprir toda a extensa agenda da igreja a
despeito da família e outras coisas. São congressos de todos os tipos, tamanhos
e lugares, vigílias, retiros para isso e aquilo, e mais tantas outras atividades
que quase não lhes sobra tempo para mais nada. Na “febre” dos Encontros de
Casais, conheci algumas pessoas que passavam meses sem aparecer na igreja, pois
trabalhavam em todos os encontros de todas as igrejas.
Alguns creem que esse ativismo louco é uma mostra de
cristianismo autêntico. Eles se matam para cumprir algumas regras e
programações que são criadas por seus líderes, que nem mesmo eles cumprem. Quando o salmista
disse que “é melhor passar um dia no teu templo do que mil dias em qualquer
outro lugar” (Sl 84:10), não queria dizer que devemos “morar” na igreja para
agradar a Deus. É claro que não.
O blogueiro Alex
Esteves (alexesteves.blogspot.com.br) diz que “Achamos
que ser cristão resume-se a ‘servir a Deus’. Pensamos em todo crente como um ‘obreiro’.
Medimos a espiritualidade pela frequência aos ‘trabalhos da igreja’, às
atividades, pelo engajamento ‘na obra de Deus’. Ora, tudo isso é importante,
mas a vida cristã não se resume a servir, trabalhar, frequentar, atuar. A vida
cristã passa antes pelo estar com Jesus, ouvir Jesus, ficar aos pés de Jesus,
exercer comunhão com Jesus”.
O profeta
Miquéias diz ao povo o que é que agradaria a Deus: “O Senhor já nos mostrou o
que é bom, ele já disse o que exige de nós. O que ele quer é que façamos o que
é direito, que amemos uns aos outros com dedicação e que vivamos em humilde
obediência ao nosso Deus” (Mq 6:8). Simples assim. Deus que sempre mostrou
gostar de coisas simples não iria exigir de nós nada que fosse complicado
demais. Um Deus que usava barro e cuspe para curar, que mandava dar um mergulho
num tanque ou alguns mergulhos num rio, não necessita de sacrifícios
exagerados.
Pare de inventar
e complicar o que Deus fez tão simples. Siga
o Senhor com toda intensidade, curta
a alegria de tê-lo em sua companhia a todo instante, compartilhe com outros as bênçãos que Ele derrama sobre você e indique este relacionamento, tão
gostoso, para aqueles que vivem neste mundo sem saber como é ter Jesus Cristo
como senhor e salvador de suas vidas. Simples assim.
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