Não sou um viciado inveterado de celular, mas hoje percebi
nitidamente que esse pequeno aparelho já ocupa uma boa parte de mim. Sou um
usuário moderado, e preciso me manter assim. Preciso continuar sendo usuário e
não usado. Passei o dia todo sem meu celular, e confesso que senti falta dele.
Foi uma falta pouco sofrida, não muito. Estou fora do Rio e deixei meu celular
em casa, assim não tenho como falar e nem acompanhar o bate papo do grupo da
família no whatsapp. Confesso, senti falta.
Vejo pessoas que dizem quase morrer sem seus smartphones. Para
algumas pessoas parece não haver vida além do celular. O mundo não é mais o
mesmo sem o celular. Incrível como um objeto, feito para nos servir, nos torna
tão dependente dele. Já são casos para pesquisa psicológica em busca de
tratamento para esse vicio. Causam acidentes a todo instante.
Essa minha crise de abstinência me fez pensar: Por que não temos a
mesma crise pela falta das coisas de Deus? Nunca vi alguém reclamando que se
passar um dia sem orar fica doente, ou o mundo parece acabar. Nunca vi alguém
reclamar que não consegue viver se não ler a Bíblia pelo menos uma vez ao dia.
Nunca vi alguém sofrer uma crise de abstinência por falta dessas coisas. Todos
parecem viver muito bem sem elas no dia a dia. Parece que não fazem falta
alguma, quando na verdade deveriam ser essenciais, imprescindíveis mesmo, para
a vida de todo cristão.
Talvez o salmista tenha sentido essa crise de abstinência de Deus
quando disse: "Como a corsa anseia por águas correntes, a minha alma
anseia por ti, ó Deus. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo" (Sl
42:1,2). Um salmo que parece um lamento causado por uma necessidade imensa da
presença intensa de Deus. O salmista chega a dizer que sua alma "está
profundamente triste" (v. 6), e sabe que só a intimidade com Deus pode
mudar esse quadro. Como seria bom se nos sentíssemos assim também ao ficar pelo
menos um dia sem uma atitude de busca pela presença de Deus.
Dizem que a corsa sente o cheiro de um lençol de água a alguns
metros de profundidade e que, quando avista um local com água e sua sede é
muito intensa, ela corre desesperadamente e solta berros como se fossem
expressão de alegria, e joga-se dentro da agua, até porque, segundo alguns,
quando ela está com sede seu corpo exala um cheiro forte e ela se torna um alvo
fácil para seus predadores. Também nós, quando estamos com sede de Deus, e não
matamos nossa sede, nos tornamos alvos bem fáceis para nosso inimigo.
O Salmo 119 é, para mim, um hino de exaltação a Palavra de Deus. O
salmista chega a dizer: "Como amo a tua lei! Medito nela o dia inteiro.
Como são doces para o meu paladar as tuas palavras! Mais que o mel para minha
boca! (vs. 97, 103). Esse tem que ser o nosso entendimento. A Palavra de Deus é
o melhor alimento para nossa vida, por isso o meditar nesta palavra tem que ter
prioridade em nossa vida, porque é por ela que caminharemos sem tropeções pois,
"é lâmpada que ilumina os meus passos e luz que clareia o meu
caminho" (v. 105).
A constante e atenta meditação da Palavra de Deus nos livrará de
sérios transtornos e erros na vida. Quando os saduceus tentaram uma pegadinha
com Jesus a respeito da ressurreição, a resposta que tiveram foi: "Vocês
estão enganados!, pois não conhecem as Escrituras nem o poder de Deus"
(Mc12:24). Não conhecer a Palavra de Deus certamente nos levará a erros e ao
não conhecimento do seu poder. Só a Bíblia pode saciar nossa sede de Deus.
Outra maneira para nos saciarmos de Deus é oferecida por Paulo:
"Orai sem cessar" (1 Ts 5:17). Não são muitos os que podem dizer que
não vivem sem oração, infelizmente. A oração deveria fazer parte da nossa vida
como faz a respiração. É com ela que nos colocamos diante de Deus em posição de
necessitados da sua presença, de pequenos como somos e dependentes dele para
todas as coisas. Mas, muitas vezes achamos que somos suficientes e não
necessitamos da ajuda dele para algumas coisas, ou pensamos que não precisamos
incomodá-lo com pequenas coisas. A falta de oração nos torna frios, e a volta a
uma vida de oração não é simples. Só a graça de Deus, seu grande amor, e sua
tremenda paciência conosco, para nos fazer voltar.
Eu ficarei ainda mais dois dias sem meu celular, pois estou
viajando, estou longe de casa e ainda sofrerei com a falta de contato. Mesmo que
ficasse muitos dias, ainda assim, tenho certeza absoluta que não seria o fim.
Mas ficar muito tempo sem a presença, sem contato com Deus, pode significar a
morte para mim. Luto contra minha má vontade, que tenta colocar outras
prioridades no meu caminho, para me afastar da busca diária por Deus. Como
Paulo, "Esmurro meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado
a outros, não venha eu mesmo ser desqualificado" (1 Co 9:27).
Sei que Deus conhece nossa dificuldade para sermos constantes,
pois ele falou sobre o povo escolhido: "Quem dera eles tivessem sempre no
coração esta disposição para temer-me e para obedecer a todos os meus
mandamentos. Assim tudo iria bem com eles e seus descendentes para sempre"
(Dt 5:29). Ele conhece bem suas criaturas. Mas fico muito animado quando vejo o
que acontece com os que conseguem: "O Senhor falava com Moisés face a
face, como quem fala com seu amigo" (Ex 33:11), e " Moisés não sabia
que o seu rosto resplandecia por ter conversado com o Senhor" (Ex 34:29).
Imagina! Consegue imaginar isso acontecendo com você?
Estou sem meu celular, pois o deixei em minha casa e não tenho
como acessá-lo. Por isso só vou parar de sentir essa falta daqui a dois dias.
Mas Deus está disponível sempre que precisarmos: "Vocês me procurarão e me
acharão quando me procurarem de todo coração. Eu me deixarei ser encontrado por
vocês, declara o Senhor" (Jr 29: 13:14).
Abstinência é o ato de se privar de algo, em geral fazendo com que
o indivíduo cesse um determinado comportamento. Não quero me privar de Deus,
por que meu comportamento, consequentemente, irá mudar para pior. Então,
abstinência de Deus, nunca mais!
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