“Quando vi a
dedicação das equipes de resgate, com muitos deles ainda cavando após dez dias,
disse mais uma vez: ‘Não pode ser!’. Trabalhavam com as mãos sangrando e os pés
cobertos de bolhas, pois havia bombeiros, seus companheiros, soterrados sobre
pilhas de metal retorcido. Como posso descrever o que era estar com eles, olhar
dentro dos seus olhos e ver a união profunda da completa exaustão com uma
determinação inflexível? Havia centenas e centenas deles. Eu me senti
despedaçado, querendo segurá-los pelos ombros e dizer: ‘Por favor, pare. Você
precisa descansar. Você precisa ir para casa’; e ao mesmo tempo queria lhes
tocar e dizer: ‘Não desista! Se eu estivesse debaixo daquela pilha de
destruição, ia querer alguém como você cavando por mim’.”
O texto acima é de
Bill Hybels sobre sua experiência na visita que fez ao que restou do World
Trade Center descrita no livro “Liderança Corajosa”. Enquanto lia este texto
imaginava as cenas que ele presenciava, seu desespero, que só lhe permitia
falar uma frase: “Não pode ser”. E como ele, fiquei impressionado também,
quando esta tragédia aconteceu, com os limites a que pode chegar a crueldade do
ser humano.
Porém, o que quero
tratar aqui não é da sombra de maldade sobre o ser humano, mas sim dos extensos
limites da bondade humana. Ver toda a multidão que se prontificou a ajudar numa
situação tão escabrosa, e até mesmo com riscos para própria vida, é algo que
nos faz sentir que há sim uma solução para o nosso mundo. Lendo sobre pessoas
tão aferradas ao desejo de salvar outras daqueles escombros, lembrei-me da
carta de Judas que descreve o estado de perdição da humanidade e, na mesma
carta, insta para os cristãos conservarem sua fé, sua esperança em Deus e buscarem
a maturidade, o crescimento espiritual em oração com um objetivo: “salvai-os,
arrebatando-os do fogo” (Jd 23).
O trabalho
incansável daquelas pessoas do 11 de setembro de 2001 pode ser um exemplo
daquilo que Jesus Cristo tinha em mente quando ordenou: “Ide, fazei discípulos
de todas as nações” (Mt 28:19). Creio que Judas entendeu perfeitamente a
sugestão de Jesus para arrebatar todas as pessoas do fogo. Para arrebatar
alguém do fogo, no meu entendimento, é entrar no fogo se preciso for;
queimar-se; machucar-se; correr riscos até mesmo de morrer, se for o caso, mas
não desistir. Manter a esperança acesa enquanto houver uma mínima
possibilidade.
Sério, eu estou
envergonhado. Não sei quanto a você, mas eu tenho falhado muito nisso. Não sei
se atingir este volume, esta intensidade de mergulhar até as últimas
consequências é fruto de um dom especial para evangelização, não sei.
Evangelizar até onde entendo é algo que todos nós discípulos de Cristo devemos
fazer. Não houve uma opção para que só alguns fizessem. Jesus não escolheu
aqueles discípulos que oravam mais, que liam mais a Bíblia com ele, que leram
muitos livros sobre a “arte de evangelizar”, que participaram dos vários seminários
de evangelização e discipulado; não foram os que mais aprenderam sobre
conquistar, consolidar e enviar. Provavelmente Jesus sabia que entre os seus
discípulos havia um ou outro que talvez não fosse tão capaz quanto outros.
Nenhum grupo é homogêneo. Ele simplesmente deu a ordem de igual modo para
todos, mas certamente ele sabia que alguns iriam arriscar a própria vida por
aquilo e outros nem tanto.
Então qual é o
segredo?
Talvez o segredo
seja o compromisso. Creio que para Deus não importa o grau de periculosidade
que você correrá para salvar alguns do fogo, mas o compromisso na execução da
tarefa dada por ele. Ele não está nem um pouco preocupado com quantas
faculdades você já terminou; quantas vezes, quantas versões ou em quantas
línguas você já leu a Bíblia; não importa quantos livros sobre evangelismo há
na sua biblioteca e que já foram lidos, decupados e revirados por você. Não,
nada disso importa para Deus. Ele não precisa disso. É lógico que se você tem
tudo isso e não achar que só isso é suficiente, ou que só isso o torna capaz de
conquistar, discipular e soltar para continuar a grande progressão geométrica
de conquista, Deus pode usar sua capacidade adquirida em prol da tarefa, mas
pode ter certeza, Ele não precisa disso.
Ele quer é um
coração que esteja disposto a, se preciso for, estourar as mãos retirando
entulhos colocados pelo mundo que sufocam as pessoas; retirar os ferros
retorcidos que distorcem a visão das pessoas sobre o amor de Deus; retirar toda
a poeira levantada por Satanás que cegam os olhos daqueles que andam
cambaleantes pela vida sem direção, ou melhor, indo em direção ao inferno. Deus
também quer aqueles que estejam dispostos a ficarem nos arredores alimentando
os famintos que saem dos escombros; aqueles que ficam nos hospitais curando as
feridas que os escombros da vida produziram em outras pessoas, algumas que
levam dias, meses ou anos para serem curadas. Todos, indiferentemente da
profundidade, ou dos riscos a serem corridos. Todos que quiserem comprometer-se
a cumprir a única ordem deixada por aquele que machucou as mãos, os pés, a
cabeça, o corpo todo, que não mediu esforços para salvar a todos do fogo, Jesus
Cristo.
A grande catástrofe
espiritual está acontecendo aqui e agora. Tem muita gente esperando por
socorro. Eu sou um voluntário. E você?
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