"Quem não reagiu está vivo". Estas foram as palavras do
governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para explicar a morte de nove pessoas
numa ação da Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar). NÃO REAGIR. Infelizmente
esta tem sido a realidade de quase todos nós moradores de cidades grandes e,
recentemente, das cidades próximas às cidades grandes. Já não temos mais
certeza se sairemos vivos de um simples acidente de veículos, não pelo acidente
em si, mas pela reação do outro motorista. Uma simples fechada, às vezes até
mesmo por um pequeno descuido, pode ser uma tragédia, dependendo do estado de
espírito, ou da arrogância, ou valentia do outro motorista.
Estamos vivendo dias que se alguém pisar no seu pé, você deve pedir
mil desculpas por ter colocado o seu pé debaixo do dele e, quem sabe, até se
prontificar imediatamente a pagar todas as despesas dele para um tratamento
psicológico, e ajuda-lo a se refazer do trauma que você causou por seu pé estar
no lugar errado, na hora errada, debaixo do pé errado.
Por mais que se queira criticar, o senhor Alckmin está certo. Reagir
para que? Manda quem pode, obedece quem tem juízo. Ou, mata quem pode, reage
quem não tem juízo. Sei lá. Mas é assim que os nossos dias estão ficando. Os
valores estão ficando todos invertidos. Mentira não é mais mentira. Errado é
ser honesto, pois quando aparece um honesto ele é tido como um herói nacional.
Correto é “dar volta” nos outros, trouxa é quem não dá. Fidelidade? Fala sério,
só com seu time de coração. Respeito? É bom e eu gosto que tenham por mim. Como
dizia o refrão da música “Eu me amo” do Ultraje a Rigor: “Eu me amo, eu me amo.
Não posso mais viver sem mim”. Os outros? Quem são eles?
É por isso que não queremos mais CPI nenhuma. Para que? Para ficarmos
com caras de bobos ao ver que tudo acaba em pizza? Estamos vendo nos
noticiários que fulano e beltrano estão sendo condenados e irão presos. E
estamos acreditando. Quantos já foram presos em outras ocasiões? Quantos estão
lá em Brasília que já viveram processos parecidos e continuam lá. Ou voltaram
para lá.
As vezes bate um desânimo tremendo e achamos que na realidade o
Governador de São Paulo tem razão. Reagir para que? Para morrer de raiva?
Afinal, são eles quem votam em tudo. São eles que criam suas leis, e projetos,
e sei lá mais o que, que só favorece às suas lambanças. E nós, pobres mortais,
ficamos aqui no limbo aguardando dias melhores. Somos democraticamente
empurrados para as urnas para votarmos quase sempre nos mesmos, até por que não
aparecem outros. Quando aparecem não nos fazem acreditar que são sérios, como
muitos que estão ai em campanha. Estamos sempre crendo que aqueles mesmos podem
agora agir diferente. Quanta inocência!!!
Não estou aqui pregando nenhuma revolução armada. Não quero que digam
que sou um baderneiro. Muito pelo contrário. Não vamos dar mais motivos para
que os Alckmins da vida digam que os que não reagiram estão vivos.
O nosso manual do fabricante, a Bíblia, nos mostra que reagir é, sim,
o que temos que fazer. Penso que não reagir é se conformar. E conformar é se
tornar cúmplice. E cumplicidade com o mundo não é o que Deus espera de nós.
Talvez por já termos sofrido tanto com essa situação estapafúrdica, achamos que
não há mais solução. Pior, acreditamos que tudo se resolverá com um número
qualquer digitado numa urna. Cremos que esta é a forma que temos para mudar
esta situação, até porque é isso que temos ouvido. A propaganda mentirosa nos
faz acreditar que é só digitar os números enfadonhos que tudo será transformado
como num passe de mágica. E nós acreditamos.
Creio que a reação para mudarmos essa bagunça é a mesma que já foi
usada na Bíblia. Clamor ao Senhor Deus que tudo pode transformar. Quando vejo a
história daquele povo separado por Deus, que quando estava em apuros recorria
ao Senhor, e ele levantava homens, conforme sua vontade, que transformava a
situação, penso que também precisamos fazer isso. Precisamos como igreja do
Senhor nos debruçarmos sobre esta questão, sem medo de sermos politicamente
incorretos, mas com ousadia para sermos espiritualmente corretos.
Eu recomendaria um mergulho nas palavras do apóstolo Paulo que orienta
aos romanos: “E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela
renovação da vossa mente” (Rm 22:12).
Diferentemente do mundo não devemos votar em candidatos, mesmo que
sejam “crentes”, só pensando nos benefícios que eles trarão às nossas igrejas.
Fazer barganhas como algumas fazem. Apoio em troca de terrenos, de iluminação
melhor na porta da igreja ou sei mais o que. Esta é a forma do mundo. Quando
vejo igreja e pastores apoiando este ou aquele candidato, fico preocupado com
qual a intenção por trás desse apoio. O que tenho visto até agora não me alegra
nada.
Creio que igrejas sérias podem e devem investir tempo em seus cultos,
em suas diversas programações focando este tema que é de tão grande
importância. O nosso medo de sofrermos represálias nos faz concordar com o
senhor Alckmin, e fingirmos de mortos, para não morrermos. A transformação das
nossas mentes deve passar também por esclarecimentos com relação a estas
coisas. Pastores, líderes, ou seja quem for, devem esclarecer o povo de Deus a
respeito desse dever cívico, a luz da Palavra de Deus. Orientar seus fiéis a
serem fiéis. Resistirem às tentações que surgem nestas épocas que podem engodar
a muitos.
Na matança lá em São Paulo, melhor mesmo foi não reagir. Mas essa
regra não se ajusta à nossa realidade. Se não reagirmos morreremos de tédio
vendo se repetirem, em dias vindouros, todas as cenas que temos visto em Brasília
nestes dias, e que já vimos tantas outras vezes. Se não reagirmos seremos
cúmplices de tudo isso. Se não reagirmos, nossos filhos, nossos netos e outros
depois deles irão sofrer nossa atitude politicamente correta de não intervirmos
nesta farra toda.
Se começarmos a tomar atitudes, aqui e ali, outros verão que existem
pessoas com uma mente renovada, que não querem tomar a forma do mundo podre que
está ai, e se unirão. Graças a Deus já tenho visto alguns esboços de reação em
algumas igrejas, mas são tão poucas.
“Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Mt
22:21). A quem devemos honra? Precisamos confiar verdadeiramente em Deus e em
suas promessas, e não ficarmos preocupados com as reações que poderemos sofrer.
Confiamos ou não confiamos no Deus que amamos. Seria Ele menos poderoso do que
os nossos políticos? Alguns políticos até se acham.
Minha oração é que uma reação em cadeia aconteça; que haja um contagio
deste vírus saudável de descontentamento com esta situação e se espalhe pelas
igrejas. Que haja um clamor nacional, fervoroso, diante de Deus, pedindo sua
interferência na direção da nossa Pátria. Que ele mesmo levante homens de
caráter, homens segundo o seu coração, que sirvam ao seu propósito de tornar
este país numa nação relevante. Uma nação genuinamente cristã. Que respeite o
ser humano por crer que ele é digno de respeito. Que haja uma justiça só, com
igualdade para todos. Que haja, sim, uma revolução silenciosa, feita à base de
oração, da renovação das nossas mentes, por causa do não conformar-se com a
forma deste mundo tão perdido, e que essa reação em cadeia nos faça, com todas
as letras, experimentar “qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de
Deus” (Rm 12:2).
Deus já fez isso várias vezes, e pode fazer novamente.
É isto que nos resta. Reagir pra viver, ou não reagir para sobreviver.
Eu quero viver.
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