Estava
assistindo um filme antigo, que conta a história de um rapaz, Lewis, preso na
Malásia por ter sido encontrado com uma grande quantidade de haxixe, que o
fazia ser considerado como traficante. Mas toda aquela droga fora comprada para
ser usada com mais dois amigos, que foram embora para outro país, e só então a
policia chegou, e prendeu o tal rapaz. Se os amigos retornassem e assumissem a parte
deles, a quantidade da droga por pessoas seria menor e não seria considerado como
tráfico. Assim Lewis depois de cumprir a pena na cadeia, não seria enforcado, o
que aconteceria se fosse traficante.
Os
amigos voltam e um deles entra na cela para falar com Lewis, e este lhe diz que
tem orado muito, pois ali dentro a ausência de Deus é muito grande. Lá fora,
segundo ele, não era necessário orar, pois Deus estava sempre presente. Era só
esticar as mãos e tocar nele. Mas ali naquela prisão nada lembrava Deus. Nada
fazia sentir a presença de Deus, por isso ele tinha que orar.
Às vezes
nos sentimos assim também mesmo não estando numa prisão. Parece que Deus não
está. Nada faz sentido. Tudo é muito confuso.
Soube
que há um tempo, uma cantora gospel disse numa entrevista que preferia orar de
madrugada, pois “todos dormiam e Deus
teria mais tempo” para ela. Será que é isso? Será que com o aumento da
humanidade, às vezes, Deus deixa uns para depois enquanto atende outros? E se
eu neste momento estiver correndo grande perigo? Já era? Perdeu? Será que o
outro por quem Ele me trocou estava tão necessitado assim? Qual o critério que
Ele usa para definir quem precisa mais?
Lógico
que isso é só uma viagem. Eu sei que Deus não age dessa forma. Eu sei que Deus
está em todos os lugares, em todo tempo e ao mesmo tempo. Sei que Ele me
conhece muito melhor do que eu mesmo me conheço. Sei que Ele sabe, muito melhor
do que eu, quais são as minhas reais
necessidades, e quais são as que eu acho
que são necessidades e, às vezes, até me concede uma destas para me agradar.
Mas isso não tira o sentimento de que às vezes estou completamente sozinho,
mesmo sabendo que não é verdade.
Talvez
você não tenha vivido esta experiência, mas quando olho para as palavras de
Davi vejo que não estou sozinho neste sentimento de solidão divina: “Por que, Senhor, tu permaneces afastado na
hora do sofrimento? Por que te escondes de mim?” (SL 10:1); “Senhor, até quando vais te esquecer de mim?
Para sempre? Até quando me voltarás as costas no tempo da dificuldade? Até
quando as dúvidas tomarão conta da minha alma? Até quando meu coração ficará
cheio de tristeza? Até quando serei cercado pelo meu inimigo? Ó Senhor, dá-me
um pouco de atenção, responde os meus pedidos!” (Sl 13: 1 a 3); “Meu Deus, meu Deus, por que me deixaste
assim tão sozinho? Por que eu vivo pedindo socorro, gritando pela tua ajuda, e
Tu não me respondes? De dia e de noite eu choro sem parar, suplicando a tua
salvação, mas não recebo resposta” (Sl 22:1,2).
Também o
salmista Asafe descreve o mesmo sentimento:
“Ó Deus, não fiques ai parado e calado, enquanto nós fazemos nossas orações”
(Sl 83:1).
Sem
dúvida alguma é uma situação sufocante, desesperadora. A dor, a pressão, o
sofrimento vão apertando e não vemos uma ajuda sequer. O silêncio de Deus é
desesperador. Dói mais do que as dores que nos fazem suplicar por sua presença.
Mas, ao
mesmo tempo, é confortador ver que apesar de tudo isso Davi continua confiando
no seu Deus: “Deus é minha única
esperança; confio nele e fico tranquilo, porque Ele é o meu Salvador. Ele,
somente Ele, é a minha Rocha, o meu Salvador, a minha proteção segura. Os
problemas da vida nunca conseguirão me derrotar completamente” (Sl 62:1,2).
Davi espera paciente e tranquilamente a salvação do Senhor, no tempo do Senhor.
Os
filhos de Coré cooperam com visão de um Deus que é um abrigo protetor do perigo
e que concede força e, por isso, nos dá segurança e coragem para confiar nele a
despeito de qualquer coisa que aconteça: “Deus
é nossa proteção e nossa força. Ele é aquela ajuda na qual se pode confiar no
dia da angústia. Por isso, não ficaremos perturbados, mesmo que o mundo seja
destruído, mesmo que as montanhas desabem dentro do mar. Ficaremos tranquilos
mesmo se houver grandes enchentes e terremotos tão fortes que façam tremer os
montes mais altos. O Senhor do Universo está entre nós; Ele, o Deus de Israel é
a nossa proteção!” (Sl 46:1,2,3 e 11).
A noite
é escura. Claro que é. Às vezes é tão escura que podemos segurar com as mãos.
Mas, como disse o prisioneiro do filme, Deus pode ser tocado quando esticamos
as nossas mãos em direção a Ele. Então, como disse Habacuque, “embora as figueiras tenham sido totalmente
destruídas e não haja flores nem frutos; embora as colheitas de azeitonas sejam
um fracasso e os campos estejam imprestáveis; embora os rebanhos morram pelos
pastos e os currais estejam vazios, eu me alegrarei no Senhor! Ficarei muito
feliz no Deus da minha Salvação!” (Hc 3:17,18).
Mesmo
que pareça que Ele não está me escutando, ainda assim continuarei gritando por
socorro, pois sei que Ele me ama, e vai me socorrer. Só terei que confiar o
bastante para aguentar chegar a hora dele. Eu preciso dele, e sem ele nada sou.
C. S. Lewis disse que “seria atrevida e
tola a criatura que se vangloriasse diante de seu Criador dizendo: ‘Não te peço
nada. Amo-te desinteressadamente”. Como não sou tolo nem atrevido vou
continuar confiando e pedindo. Mesmo que pareça que Ele não está.
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