Durante uns seis anos eu
prestei serviços no Projac, no Rio de Janeiro. Lembro-me de um dia quando me
pediram para ir buscar o Genivaldo. Fui para o endereço fornecido, mas não
conseguia encontrar a casa. Parei em um bar onde havia alguns homens e
perguntei se algum deles sabia onde ele morava. Eles olharam uns para os outros
com caras de interrogação até que um falou: “Olha,
eu moro aqui há muitos anos e não conheço nenhum Genivaldo nesta rua. Tem
certeza que é este o nome, ou que é nesta rua mesmo?”.
O que parecia tão fácil
começara a ficar enrolado. Confirmei o nome da rua, era aquela mesma.
“Como
é esse cara? O que ele faz?”
perguntou alguém. Eu disse que ele não tinha uma das pernas e,... Mal acabei
minha frase e ouvi um coro de vozes falando ao mesmo tempo: “É o Saci!”. Eu disse que era e
apontaram a casa em frente ao bar. Eu estava na porta do Genivaldo, só que o
Genivaldo agora era o Saci. Ele era o dublê do Saci no Sitio do Pica-Pau
Amarelo, produção que eu trabalhava.
Isto é uma coisa que
acontece com muita gente. Alguma coisa se torna uma marca tão evidente em suas
vidas que elas passam a ser conhecidas mais por aquilo do que por seu próprio
nome. Pode ser uma marca, uma cicatriz, um cacoete, ou sei lá o que, fica tão
evidente que se torna uma forma de identificar. Você com certeza conhece alguém
que é o “gordo”, ou “dentuço”, ou “orelha”, ou “pato rouco”. Conheci um cara
que era chamado de “mentirinha”, por causa das suas pernas curtinhas. Em minha
família, os quatro filhos mais velhos não tivemos apelidos; as mais novas,
gêmeas, chamamos uma de “Dinha” e a outra de “Preta”. Quando alguém usa o nome
delas fico pensando: “Quem será?”.
A Bíblia fala de um
apelido bem antigo que acabou virando uma marca agradável, que eu e você com
certeza teríamos muita alegria de ser chamado por ele.
Após morte de Estevão os
seguidores de Cristo espalharam-se por vários lugares fugindo da grande perseguição
que se levantava. Os que foram para Antioquia começaram a pregar o evangelho
para todos e testemunhavam de Cristo aonde iam e, com isso, um grande movimento
de pessoas em direção ao evangelho aconteceu. Quando a igreja que estava em
Jerusalém soube disso enviou Barnabé para ver o que estava acontecendo. “Este, ali chegando e vendo a graça de Deus,
ficou alegre e os animou a permanecerem fiéis ao Senhor, de todo coração”
(At 11:23).
Aqueles seguidores de
Cristo viviam de maneira que a graça de Deus era palpável, visível. Isso
encantou Barnabé. Suas vidas levavam o povo a ver a vida de Cristo. Eles
olhavam para aquelas pessoas e percebiam nelas uma identificação clara com a
vida e os ensinamentos de Cristo. Não eram apenas papagaios repetindo o que o pastor
falava, ou contando vitórias dos outros, mas eram pessoas que viviam o que
pregavam e pregavam aquilo que viviam. Havia coerência entre vida e fala.
Mas quem era esse Cristo?
Alguém que havia acabado de morrer de forma tão trágica e vexatória. Morrera
como um grande inimigo público. Essa era a visão daqueles que não seguiam a Cristo,
e, penso eu, por isso procuraram um meio de zombar daqueles loucos que seguiam
os ensinos daquele perdedor. E o melhor que puderam fazer foi chama-los de “cristãos”,
conforme registrado por Lucas: “Em
Antioquia, os discípulos foram pela primeira vez chamados de cristãos” (At
11:26). Pronto, estavam alcunhados. Estavam marcados para sofrerem zombaria.
Era o bullying da moda.
Mas ninguém reclamou.
Muito pelo contrário. Para aquelas pessoas, os seguidores de Cristo, era um
prazer serem chamados de cristãos. Isso demonstrava que suas atitudes estavam
corretas e que eles poderiam continuar vivendo assim. Seu desejo de parecer com
Cristo era autenticado em cada grito de “CRISTÃO!!!!”, que eles ouviam. Aquilo
soava como uma doce e prazerosa canção aos seus ouvidos. O apelido virou
elogio. Suas vidas refletiam Cristo, e isso era tudo que eles queriam que os
outros percebessem. Havia uma marca cravada em suas vidas que os tornaram
diferentes e por isso seus nomes mudaram. Agora os Barnabés, os Estevãos, os
Paulos, os Lucas, os Pedros, tinham outro nome pelo qual eram conhecidos:
CRISTÃO. Isso era maravilhoso.
Este apelido atravessou os
séculos e ainda hoje ele é usado.
Para muitos ainda é uma
forma jocosa de indicar alguém. Talvez mais do que naquela época, os cristãos
hoje sejam mais motivos de zombaria, pois em plena era moderna só mesmo um “bando
de ignorantes” para acreditar em tais coisas.
Para outros, ser chamado
de cristão é uma afronta para o significado da palavra. Eles vivem enfiados nas
igrejas em busca de proteção para suas vidas medíocres, e imitam os cristãos e
até enganam muita gente. A Deus não.
Para outros continua sendo
um elogio. Por mais que eles acreditem que não mereçam ser chamados de
cristãos, se isso acontece, é porque, talvez, apenas uma pontinha bem pequena
da sua vida já esteja refletindo aquilo que Cristo quer. Então ele se alegra
por saber que seu esforço tem valido a pena, e isso serve de motivação para
continuar sua entrega total, para que a cada dia Cristo o transforme mais e
mais na imagem e semelhança perdida por causa do pecado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário, pois é sempre bom saber o que você pensa.